O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum, representando quase 25% de todos os cânceres diagnosticados. Mais de 2,3 milhões de pessoas em todo mundo recebem o diagnóstico de câncer de mama anualmente e há, aproximadamente, 8 milhões de sobreviventes do câncer de mama no mundo segundo estatísticas de 2020. Embora a sua incidência varie de região para região, esses números estão crescendo constantemente e são esperados mais de 3 milhões de novos casos de câncer de mama por ano até 2040.
Apesar dos avanços recentes que nos ajudam a personalizar e descalonar o tratamento para diminuir as toxicidades, muitos pacientes com câncer de mama tratados com intenção curativa ainda recebem esquemas com vários quimioterápicos.
Três classes de quimioterápicos (antraciclinas, agentes alquilantes e taxanos) têm perfis de toxicidade relativamente bem compreendidos, com base em décadas de uso no tratamento do câncer de mama. Por exemplo, as antraciclinas aumentam o risco de eventos cardiovasculares a curto prazo (como arritmias) e podem causar disfunção ventricular esquerda irreversível a longo prazo. Antraciclinas e ciclofosfamida aumentam discretamente o risco de leucemia, embora isso possa ser menos verdadeiro para ciclofosfamida nas doses usadas no câncer de mama. Da mesma forma, antraciclinas e ciclofosfamida são gonadotóxicas, afetando a fertilidade e levando a menopausa precoce com impactos na saúde óssea e cardíaca. Os taxanos, por sua vez, podem causar neuropatia periférica principalmente sensorial que afeta os pés e as mãos, podendo persistir por toda a vida.
Terapias alvo como o Trastuzumabe, Pertuzumabe ou Trastuzumabe Emtansina têm incidências mais baixas de cardiotoxicidade, sendo essa toxicidade confinada ao período de tratamento, ou seja, os pacientes não parecem desenvolver esse efeito colateral tardiamente.
Os efeitos colaterais relacionados ao Pembrolizumabe de longo prazo podem variar desde doenças leves, como hipotireoidismo (14,0%), até diagnósticos mais debilitantes, como hipofisite (2,1%), que podem necessitar de tratamento vitalício com hidrocortisona.
As terapias endócrinas melhoram a sobrevida de pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo e podem ser recomendadas por até 10 anos. Enquanto alguns pacientes relatam efeitos colaterais manejáveis, outros pacientes experimentam efeitos colaterais mais intensos como fogachos (ondas de calor) que podem ocorrer em até 80% das pacientes, secura vaginal, diminuição da libido, dores articulares, fadiga, alopecia e osteoporose.
Outro aspecto importante nas sobreviventes do câncer é o medo da recorrência, vivenciado por até 80% das mulheres com câncer de mama. Isso pode levar a uma piora da qualidade de vida e depressão.
Além das estratégias medicamentosas que podem ser utilizadas para manejar algumas toxicidades em casos selecionados, é extremamente importante realizar atividade física regularmente. Essa intervenção é umas das mais importantes para diminuir os sintomas associados ao tratamento. Além disso, pesquisas mostram que o exercício reduz tanto a recorrência quanto a mortalidade por câncer de mama e é benéfico para melhorar a fadiga, ansiedade, depressão, qualidade de vida, força, sono e saúde óssea. Infelizmente, a maioria das sobreviventes do câncer de mama não atinge as metas recomendadas pela OMS ( Organização Mundial de Saúde) de 150 minutos de exercício aeróbico leve por semana e treinamento de força duas vezes por semana. A Sociedade Americana de Câncer também reconhece que as pessoas devem se movimentar ao longo do dia: “movimente-se mais e sente-se menos”. A ASCO (Sociedade Americana de Oncologia) recomenda exercício aeróbico e de musculação durante o tratamento oncológico para reduzir os efeitos colaterais da terapia. Para os pacientes em quimioterapia, essa intervenção demonstrou melhorar a fadiga, cognição, qualidade de vida, depressão, ansiedade e qualidade do sono.
Em relação a dieta, algumas recomendações gerais podem ser feitas. O estudo Women’s Health Initiative randomizou 41.835 mulheres para uma dieta com baixo teor de gordura e com aumento no consumo de frutas/legumes e grãos integrais versus uma dieta padrão. Mulheres no braço da intervenção que desenvolveram câncer de mama tiveram uma melhor sobrevida global comparadas ao grupo da dieta padrão. Outros estudos mostraram um aumento na mortalidade por todas as causas em sobreviventes de câncer de mama que consomem maiores quantidades de gorduras saturadas/trans. Portanto, recomenda-se uma dieta rica em vegetais (que inclui a dieta mediterrânea e algumas dietas asiáticas), incorporando gorduras saudáveis e grãos integrais enquanto evita carnes processadas, carboidratos, bebidas industrializadas e adoçantes artificiais. Uma dieta mediterrânea que contém nozes e azeite de oliva extravirgem tem benefícios cardiovasculares. Além disso, incorporar alimentos ricos em fibras também pode ser benéfico.
Importante destacar que a soja na dieta é segura para pessoas com histórico de câncer de mama e pode ser benéfica. No entanto, suplementos de soja não são recomendados.
No que concerne ao consumo de álcool, as diretrizes da National Comprehensive Cancer Network’s preconizam não consumir álcool. A maioria das evidências sugere que o álcool aumenta o risco de recorrência, especialmente após a menopausa.
O “mindfulness” é recomendado pela ASCO para ansiedade, depressão e qualidade de vida (grau A). Os pacientes podem praticar mindfulness de várias maneiras, incluindo meditação, yoga, Tai Chi e técnicas de respiração. Essas práticas melhoram a ansiedade, depressão, sono e qualidade de vida em pacientes com câncer.
A jornada de uma sobrevivente de câncer de mama é permeada de desafios. Ao enfrentar efeitos colaterais de longo prazo, é essencial que estratégias abrangentes sejam implementadas, incluindo opções medicamentosas com um estilo de vida saudável e apoio emocional constante.
Referências Bibliográficas:
- World Health Organization, International Agency for Research on Cancer Statistics. Breast cancer. https://www.iarc.who.int/cancertype/breast-cancer/
- Siegel RL, Miller KD, Fuchs HE, Jemal A. Cancer statistics, 2022. CA Cancer J Clin 2022;72:7-33. doi:10.3322/caac.21708
- Cathcart-Rake EJ, Tevaarwerk AJ et al. Advances in the care of breast cancer survivors. BMJ 2023;382:e071565 | doi: 10.1136/bmj-2022-071565